Quando se inicia um ciclo de queda nas taxas de juros, um movimento natural ocorre: a recuperação das ações na Bolsa de Valores.
Quando se inicia um ciclo de queda nas taxas de juros, um movimento natural ocorre: a recuperação das ações na Bolsa de Valores.
Ilustração setas (Pixabay)
Quando se inicia um ciclo de queda nas taxas de juros, um movimento natural ocorre: a recuperação das ações na Bolsa de Valores. Nos últimos 20 anos, em seis reduções da taxa Selic, cinco foram marcadas pelo desempenho positivo do Ibovespa, revela um estudo da XP. A cada diminuição de 1% na Selic, o principal índice da B3 apresentou um retorno médio de 7,5%.
No contexto de valorização, as empresas mais sensíveis à queda dos juros, e que demonstram melhor desempenho, são as small caps, ou seja, empresas de menor capitalização de mercado, inferior a R$ 10 bilhões. Contudo, surge a questão: se o foco é obter mais dividendos, as pequenas empresas conseguem superar as grandes e consolidadas, conhecidas como blue chips?
Para alguns analistas, a opção mais simples é investir em blue chips, uma vez que tais empresas já passaram pela fase de expansão e, portanto, podem destinar uma porção maior dos lucros aos acionistas, em vez de reinvestir no próprio negócio. Essas empresas geralmente têm uma participação de mercado significativa, o que confere maior segurança e resiliência aos resultados.
Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, opina que a abordagem de longo prazo com aquisição de ações a preços atrativos pode favorecer os investidores que buscam um dividend yield mais alto ao optar por small caps.
Essa perspectiva é compartilhada por Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama. Para ele, no caso de investidores que buscam um dividendo mais robusto, pode ser vantajoso focar em small caps. O motivo é que esse tipo de ação costuma receber menos atenção do mercado, o que resulta em preços mais baixos. "O investidor pode encontrar um yield de 7%, 8% ou até 10% em empresas relativamente estáveis, com controle sólido e que representam boas oportunidades de investimento", destaca.
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Soares ressalta que mais importante que o dividend yield é o yield on cost, que considera o dividendo em relação ao preço de compra da ação. Isso significa que se o preço da ação aumentar, o investidor já terá garantido um ganho satisfatório com os proventos.
Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, também destaca o retorno total das ações, que é a soma da valorização das ações com o retorno em dividendos. Ele observa que, nas small caps, o retorno total tende a ser maior. Isso faz com que as small caps se tornem mais atrativas durante períodos de queda de juros, uma vez que o retorno total é mais substancial.
Contudo, o tamanho da ação nem sempre é o fator determinante para uma estratégia de renda passiva. Empresas que pagam bons dividendos geralmente possuem características como presença em mercados estáveis, liderança em seus segmentos, estrutura de capital sólida e capacidade de retornar recursos aos acionistas.
Leonardo Piovesan, analista fundamentalista da Quantzed, enfatiza a importância de considerar se a empresa está entrando em um ciclo com aumento nos investimentos ou se está concluindo esses investimentos. Isso influenciará a capacidade da empresa de destinar sua geração de caixa a dividendos.
Em relação aos setores, os analistas apontam que é possível encontrar oportunidades de dividendos em setores duradouros, como bancos, empresas de energia elétrica, saneamento, seguros e telecomunicações, tanto em blue chips quanto em small caps.
Há também setores cíclicos, como commodities e construção civil, que podem se beneficiar temporariamente do ciclo de queda de juros e oferecer dividendos interessantes nos próximos dois ou três anos. Além disso, destacam empresas presentes em setores de nicho, mas com forte geração de caixa.
Quanto a small caps que oferecem bons dividendos, o banco ABC Brasil (ABCB4) é a favorita dos analistas para os próximos meses, com um projected dividend yield de até 8%. A empresa é recomendada pela Órama, Levante, Ticker Research e Toro Investimentos.
João Abdouni, analista da Levante, destaca que o ABC é um banco rentável, com bons resultados ao longo dos últimos dez anos e valor de negociação abaixo do valor patrimonial. "O banco deve continuar oferecendo bons retornos aos acionistas, com potencial de valorização nos próximos 12 meses", afirma Abdouni.
O banco ABC concentra suas atividades em médias e grandes empresas e se especializa em concessão de crédito. Serra, da Toro, enfatiza que o banco geralmente tem uma taxa de inadimplência mais baixa em comparação com seus concorrentes, resultando em menores provisões para devedores duvidosos.
Serra prevê que a demanda por crédito por parte das empresas para desenvolvimento de novos projetos aumentará com a queda das taxas de juros. Atualmente, o banco apresenta um dividend yield de 8,39% e provavelmente manterá esse nível ou até mesmo aumentará um pouco devido à margem financeira. O banco paga juros sobre capital próprio trimestralmente.
Outras small caps em setores duradouros também são mencionadas pelos analistas, como Alupar (ALUP11), Irani (RANI3) e Sanepar (SAPR11), todas com projeções de rendimento na faixa de 7% a 8%.
Para Alupar, Piovesan, da Quantzed, destaca que a empresa está finalizando um ciclo de investimentos e deve aumentar o payout nos próximos meses. Ele prevê um dividend yield de 7% a 8% para 2023 e um retorno em proventos de até 10% nos próximos 12 meses.
No caso de Irani, do setor de papel e embalagens, e Sanepar, do setor de saneamento, as projeções da Levante são positivas, esperando retornos na faixa de 7% e 8%, respectivamente.
Quanto às small caps de setores cíclicos, como commodities, construção civil e varejo, também podem oferecer dividendos mais altos com a queda dos juros, embora sejam mais indicadas para alocações táticas. Dentro desse grupo, a empresa Mitre (MTRE3) se destaca, com a possibilidade de um dividend yield de até 10% nos próximos 12 meses, devido à forte geração de caixa com projetos em andamento.
Na construção civil, a holding JHSF (JHSF3) é mencionada por Daniel Nigri, analista do Dica de Hoje Research, como capaz de oferecer dividendos na faixa de 7% a 8% nos próximos 12 meses. Nigri destaca a diversificação da JHSF em produtos e serviços de alta renda, como incorporação, aeroporto executivo, shoppings, hotéis da marca Fasano e restaurantes. Ele prevê que a empresa se beneficiará da queda dos juros para alinhar melhor seus passivos.
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Nigri também menciona a empresa Randon (RAPT4), que produz reboques e semirreboques, com um projected dividend yield de 5,4% para os próximos 12 meses. Kepler Weber (KEPL3), fabricante de silos, e Portobello (PTBL3), produtora de porcelanato, são apontadas por Duarte, da Ticker, como empresas com potencial de retorno de dividendos de 5,5% e 6,5%, respectivamente.
Outra opção é a Bradespar (BRAP4), holding que investe na mineradora Vale, que atualmente oferece um dividend yield de 12,5%. No entanto, Serra acredita que esse yield pode diminuir marginalmente nos próximos 12 meses se o preço da Bradespar aumentar, uma vez que a holding é sensível ao preço do minério de ferro.
Existem também empresas resilientes em nichos específicos. No setor de tecnologia, Soares, da Órama, sugere nomes como CSU Digital (CSUD3), líder em infraestrutura de cartão de crédito para terceiros. A empresa é dominante, financeiramente sólida e possui fluxo de caixa positivo para pagar dividendos de aproximadamente 6% a 7%. Outra empresa similar é a Valid (VLID3), que atua na emissão de carteira de identidade, CNH, impressão de cartão de crédito e telecomunicações, atendendo ao governo e empresas semelhantes à CSU. Embora o dividend yield da Valid tenha caído para 4%, Soares observa que já chegou a pagar 5% no passado.
A Wilson Sons (PORT3), que opera nos segmentos de porto e navio de reboques, com foco no comércio internacional com contêineres, também é considerada uma empresa resiliente em um segmento de nicho. A Órama espera que a empresa alcance um dividend yield de 6% com a geração de caixa nos próximos dois anos.
Em suma, os investidores têm diversas opções a considerar ao buscar dividendos durante um ciclo de queda de juros. A estratégia dependerá das metas financeiras individuais, do apetite por risco e do horizonte de investimento.
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